A confiança perdida é difícil de recuperar. É preciso acarinha-la e rega-la de novo. Ela não cresce facilmente como as unhas.
O filósofo grego Aristóteles dizia que os seres humanos são como animais que precisam viver na presença uns dos outros. Seria algo relacionado ao próprio instinto de sobrevivência que nos atrai uns aos outros e nos motiva a viver felizes em comunidade, porque assente numa base de confiança mínima.
Foi a confiança, aliás, a ferramenta fundamental que permitiu ao
capitalismo desenvolver-se ao longo dos séculos. No livro Sapiens, o
historiador Yuval Noah Harari explica que a ideia de progresso fez com que as
pessoas passassem a confiar mais no futuro e também umas nas outras.
E esta confiança levou não apenas os capitalistas a terem coragem de
reinvestir os lucros na produção, mas também criou uma construção mental
coletiva que fez com que as pessoas passassem a considerar ouro ou dólar como
moedas de valor. Podemos facilmente imaginar o que teria sido da sociedade
ocidental sem esse contrato social de confiança!
Na Dinamarca, que costuma apresentar frequentes altos índices relacionados
à felicidade, existem 8 fatores explicativos, entre eles o da confiança. No
país, as pessoas tendem a confiar umas nas outras, e isso acontece das mais
variadas formas, de resto extensíveis ao dia-a-dia.
A confiança, ou melhor a sua ausência, anda muitas vezes de mão dada com o
egoísmo. Quando alguém olha estritamente para o seu umbigo e é incapaz de se
ver retratado no espelho, por regra não é digno nem de confiança nem de
esperança em conseguir transmitir às novas gerações os valores que são os
únicos capazes de contribuir para o progresso na humanidade: e um deles é o
valor da confiança.
E tudo isto está relacionado com o direito, porque o direito é
indissociável da vida individual e em comunidade.
O valor da confiança é um dos pilares essenciais da regulação da vida em
comunidade. É estrutural na vida nas relações privadas dos cidadãos, estrutural
na vida em comunidade, estrutural na vida dos Estados e na regulação das
relações interestaduais.
Todos os dias nos deparamos com situações que decorrem precisamente da
falta confiança (desconfiança). Ninguém já confia em ninguém, seja nas relações
laborais quotidianas, seja na rua, seja onde for. E esta tendência tem vindo a
agravar-se cada vez mais deixando sequelas de natureza vária, seja ao nível da
saúde mental de cada um de nós, seja ao nível político, económico ou social.
Porquê? Porque a confiança é o cimento social, é o elo de ligação das
sociedades e da ação coletiva.
Termino referindo que a confiança funciona entre os indivíduos e nas
sociedades como o óleo funciona num motor de um carro. É o lubrificante da
harmonia e da qualidade das relações humanas. Sem níveis de confiança razoáveis
as sociedades caminharão para o caos e a infelicidade individual e coletiva.
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